sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A poesia é sempre inesperada

O livro me chegou às mãos através de uma menina de 12 anos, que provavelmente não o leu. Intitulado "Lírios no Deserto" (ed. Oficina, 2009), traz poemas de Eurídice Hespanhol. Dela só sei que mora aqui em Santa Maria Madalena, interior do Estado do Rio de Janeiro, e é parente de alguém que a tal menina conhece.

Depois de alguns dias, finalmente abri o volume. E aí veio a surpresa. É poesia da boa. Vejam se concordam,
Terezinha Costa.


Eu almoço sonetos,
de sobremesa uma trova.
Bebo tercetos,
lancho haikais.
Derramo na xícara
rimas de sonhos...
Sinto no rosto
a brisa leve de um
dodecassílabo inusitado...
Aborto todas as métricas,
dissimulo réplicas...
E à noite
embriago-me
com todos os goles
de versos livres,
da forma mais sã.

Porque poesia
tem que ter todo dia
e ainda sobrar pro café da manhã.

(Satisfação, Eurídice Hespanhol)

Nas palavras penso chegar onde quero.
Viajo, navego, me entrego...
É um jogo,
mas não de palavras,
de passar anéis,
de pique alto e pique baixo...
De infância plena...
Um amor bobo,
um amor de batatinha frita,
um,
dois,
três...
Por isso eu te amo
como quem brinca
de inaugurar romances,
de passear no bosque,
encontrar o lobo mau.
E nunca,
nunca ser a chapeuzinho vermelho,
nem a vovó ou a mãe.

Não és o lobo,
muito menos o caçador...

Eu sou a cesta de doces,
tu és o cãozinho
que acompanhava a menina.
Pronto,
acabou a história...

(Palavras, Eurídice Hespanhol)

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