sábado, 19 de dezembro de 2009

O assassinato do português
(continuação I)

Do outro lado do balcão, a balconista da farmácia olhava-o atordoada. Um rapaz alto e magro, que aguardava a vez de ser atendido, agachou-se junto ao homem estendido no chão e decretou: “Ele precisa de um médico.”

A balconista saiu do estupor. “Vou estar chamando uma ambulância”, disse rapidamente. Sacou um celular do bolso do jaleco e fez a chamada. A essa altura, a vítima babava. Um fio de saliva escorria-lhe pelo canto da boca e descia até o assoalho, onde começava a formar uma poça.

Do outro lado da linha, a atendente do serviço médico de urgência disse alguma coisa. A moça da farmácia repetiu o que ouvira: “Cinco minutos? A ambulância vai estar chegando em cinco minutos? Ótimo!” No chão, a poça de baba aumentou.

Foram quatro minutos, na verdade. Dois paramédicos entraram, carregando uma maca, que desdobraram em gestos rápidos e precisos. Um deles perguntou o que acontecera. A balconista relatou o pouco que sabia: “Ele estava falando comigo e de repente caiu no chão estrebuchando. Não sei o que houve.” O paramédico fez um sinal ao colega, para ajudá-lo a colocar o homem na maca.


Enquanto ajustavam as correias que imobilizavam a vítima, conversavam. O que falara antes começou: “Rapaz, você viu na TV a notícia do garotinho que possuía 50 agulhas enfiadas no corpo? Que barbaridade, hein?!” O outro sacudiu a cabeça em assentimento. O primeiro retomou: “O médico que está cuidando do menino apareceu no Jornal Nacional. Ele disse que a trajetória das agulhas indica uma intenção fatal.” O outro voltou a sacudir a cabeça: muito mal-intencionadas mesmo aquelas agulhas. Na maca, o doente revirava os olhos.
(continua)

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